SK
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Não há quem não tenha ouvido falar, pelo menos uma vez, do rei Artur e de sua corte de jovens e bravos vassalos. Ostentando portentosas armaduras, combatendo pela honra de suas amadas e habitando grandes castelos, eles evocam os ideais da cavalaria, típicos da Idade Média.
Da literatura às óperas, das artes plásticas ao cinema de Hollywood, poucos personagens mereceram tanta atenção e tornaram-se tão conhecidos. Mas, afinal, o rei Artur existiu?
Para responder a esta pergunta e encontrar o verdadeiro Artur teremos que voltar mais longe no tempo. Não adianta procurá-lo nos séculos 10 e 11, onde ele foi eternizado como um nobre cristão senhor de feudos. Esse Artur nunca existiu.
A história do possível Artur começa na Bretanha (que corresponde hoje ao norte da França e ao Reino Unido). Ali viviam os celtas, um povo com origem no centro-sul da Europa, que se espalhou pelo continente durante a Idade do Ferro, aproximadamente em 600 a.C. Guerreiros tribais violentos, eles não reconheciam nenhum poder fora de seu próprio clã.
Com a ocupação romana, no século 1, no entanto, parte das tribos celtas foram sendo integradas ao império, entre eles estavam os bretões. Por cinco séculos, a Bretanha esteve sob o domínio romano que, além de trazer desenvolvimento para a região, protegia-a de invasões. Com o declínio do império, Roma passou a retirar suas legiões e, no início do século 5, os bretões tornaram-se alvo do ataque de pictos e escotos, tribos também de origem celta que habitavam o norte da ilha, onde hoje é a Escócia e a Irlanda. Mas vinham pelo mar as maiores ameaças à paz na Bretanha: anglos, jutos e saxões, povos de origem germânica.
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A Batalha de Badon foi o evento fundador do mito de que um líder bretão voltaria para unir todos os clãs contra os invasores. Se Artur esteve lá, jamais teremos certeza. No entanto, sabemos que depois dela, as lendas sobre esse guerreiro só aumentaram.
Em um raro vestígio reconhecidamente histórico datado do século 6 - cerca de 100 anos depois de Monte Badon -, o livro De Excedio et Conquestu Britanniae ("A Destruição Britânica e Sua Conquista", sem versão em português), escrito por um monge chamado Gildas, descreve a Bretanha como um país, subjugado pelos saxões. O religioso protesta contra os líderes locais, que faziam alianças com os estrangeiros para enfrentar escotos e pictos do norte, o que acabou abrindo espaço para a invasão. No fim, ele clama pela volta do guerreiro que havia vencido a Batalha de Badon. O único detalhe é que o nome desse líder não era Artur, mas Ambrósio Aurélio.
Artur mesmo, com esse nome, só apareceu no século 9, num relato conhecido como Historia Brittonum (História dos Bretões, sem versão em português) e atribuído a outro monge: Nennius. Ele conta 12 grandes vitórias de um líder corajoso e inteligentíssimo chamado Artur, que teria colecionado vitórias sobre os saxões, culminando com o triunfo em Monte Badon.
Na década de 70, lingüistas e historiadores reviraram a obra de Nennius e não restou dúvida para ninguém de que ela é baseada no texto de Gildas. No entanto, a obra de Nennius apresenta novos componentes retirados de lendas celtas e galesas.
Ele conta, por exemplo, que em uma batalha, Artur teria matado 940 inimigos com um só golpe. Essa era uma forma tradicional nas narrativas celtas: incluir feitos obviamente inverídicos fazia crescer a fama do guerreiro. A maior novidade acrescida por Nennius, o nome Artur, também tem uma referência na mitologia celta: uma coletânea de lendas sobre antigos heróis galeses chamada Mabinogion fala de um líder chamado Artur.
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